ESBOÇO
ANTROPOLÓGICO PARA A EDUCAÇÃO DA RELIGIÃO
ALEXSANDRO ALVES DE ARAÚJO
RESUMO
A preocupação
básica deste estudo é conjecturar sobre a importância do tema religião, sendo
que numa perspectiva antropológica. No contexto atual, de intolerância religiosa
e de sua influência no contexto sociopolítico, o professor se torna uma peça
chave e imprescindível para que que as tensões advindas do crescimento da intolerância
religiosa não acabe afetando a curiosidade dos jovens sobre uma perspectiva
mais abrangente sobre as religiões.[f1] Este artigo tem como objetivo apresentar importância de uma
abordagem mais ampla da religião como conceito inerente a humanidade e a sua trajetória até a religiosidade e uma possível
influência do saber religioso na ciência. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica
considerando as contribuições de autores como, (ELIADE, 2008); (KEESING, 2014); (SAGAN, 2006)
entre outros[f2] , procurando enfatizar a importância do aprendizado da religião
desde a forma mais primitiva, passando pela idade média, até a idade contemporânea
delimitando na perspectiva dos autores citados. Concluiu-se a importância de o professor levar o caráter da sua licenciatura como um
profissional da educação e estar preparado como pesquisador para procurar
apresentar conceitos interdisciplinares que possam trazer a luz do conhecimento
do aluno a quebra de conceitos e paradigmas religiosos e a reconstrução de
novos conceitos sobre a religião[f3] .
Palavras-chave: Educação.
Antropologia. Religião.
Introdução
O presente trabalho pretende situar a importância
da Antropologia e de desconstruir o senso comum, criando um senso crítico
diante dos fatos do cotidiano analisando na história aspectos políticos,
culturais, econômicos e religiosos e criar uma janela entre o presente e o
passado para que haja um entendimento, do que é, e de como funciona a sociedade
e a cultura relacionados a religiosidade e a fé e como tudo isso influencia na vida
das pessoas. Um dos obstáculos a serem enfrentados será o de utilizar os
métodos teóricos e conceitos, didáticos e pedagógicos adequados que não sejam
só o de memorização e repetição.
Historicamente sabemos que o modelo jesuítico, presente desde o
início da colonização portuguesa no Brasil, já apresentava em seu manual, Ratio
Studiorum - datado de 1599,
os três passos básicos de uma aula: preleção do conteúdo pelo professor, levantamento
de dúvidas dos alunos e exercícios para fixação, cabendo ao aluno a memorização
para a prova. (ANASTASIOU & ALVES, 2015. Pg, 01).
Durante muito tempo o estilo de ensino dos jesuítas foi o mais
utilizado nas escolas, com o seu método de exposição, memorização² e avaliação
do conteúdo, dado, o que parecia atender as necessidades do ensino, contudo, ensinar
não é uma coisa só de memorização existe uma infinidade de recursos que o
professor pode utilizar para reforçar o entendimento e tornar a aula mais
didática.
O desafio aqui se coloca sobre a questão de entrar em um território
do imaginário comum e tratar do tema religião sem que seja com a perspectiva de
religiosidade e resgatar um senso crítico com base nas questões da religião de uma
forma geral, de modo que o aluno não só consiga decorar para realizar um prova
qualquer, e sim, traga para a sua vida pessoal. Se faz necessário fazer um
levantamento sob a perspectiva da antropologia, da história e da ciência para
que o aluno possa entender a evolução dos conceitos e aplica-los quando for necessário no dia a dia.
Nesta perspectiva, constituiu-se o que deu
origem a produção do presente trabalho: O fato de que, atualmente, a intolerância,
o fundamentalismo e proselitismo religioso não só tem sido fortemente
influenciador do contexto sociopolítico, como também tem sido um dos quesitos “determinantes”
de embates por causa do conservadorismo religioso. O desafio é trazer de volta
o ensino da religião para a sala de aula sem o viés religioso.
Baseados em tais pressupostos, como poderemos
apresentar a religião sob uma perspectiva que possa criar um senso crítico que atenue
a intolerância e os embates de viés religioso?
Vários autores conceituam a religião
como uma coisa que influencia diretamente nas ações dos indivíduos, todavia, neste
contexto, o objetivo primordial deste estudo apresentar para os alunos uma perspectiva diferente do conceito como foi aprendido
o tema religião, como forma de desconstruir e construir o conhecimento necessário
para que possa se diminuir os conflitos de caráter religioso na sociedade e garantir
a liberdade religiosa. Parece ser contraditório ensinar religião sem um viés religioso
para se garantir a liberdade religiosa, mas quando as pessoas se desprendem dos
conceitos de sua religiosidade tendem a respeitar mais religião dos outros. Para
alcançar os objetivos propostos, utilizou-se como recurso metodológico, a
pesquisa bibliográfica, realizada a partir da análise de materiais já
publicados na literatura e artigos científicos divulgados no meio eletrônico.
O trabalho foi fundamentado nas ideias e
concepções de autores como: ELIADE, M.
(2008); SAGAN, C. (2006); ROHDEN, C. S. (1998); DARWIN, C. (2008); KEESING, R.
M. (2014); MOREIRA, A. (2008).
Desenvolvimento
Podemos pressupor que as convicções religiosas, muitas
vezes, levam as pessoas a cometerem injustiças, levando em consideração que os dogmas
de suas convicções, crenças, mitos e ritos ou até mesmo de sua incredulidade e
agnosticismo são considerados fundamentados, exclusivos, verdadeiros e
inquestionáveis.
Há um risco considerável de ofendermos as pessoas,
mesmo sem termos a intenção, simplesmente por não concordamos com a perspectiva
do outro em relação a sua fé ou a falta dela, consequentemente isso caracteriza
um insulto. Todavia, as religiões não são pautadas em algo concreto. Em muitos
casos, não aceitar a religião ou agnosticismo do outro pode-se evoluir até uma agressão
física de fato. Uma das dificuldades de se estudar a religião é que mesmo que tivéssemos
uma vida inteira para analisarmos não seria tempo suficiente. Podemos começar pelo
básico, as hierofanias.
As crenças nas hierofanias (manifestação do
sagrado), estão relacionadas ao animismo, “uma forma que o homem tem de
relacionar funções especificamente humanas as coisas inanimadas”, delas,
acredita-se que sai uma energia/força/poder que se chama de “mana”. Isso
em determinados momentos fez com que muitos grupos de indivíduos manifestassem
a suas crenças em deuses relacionados aos seus modos de vida aos fenômenos da
natureza como o trovão, o vento, arvores, cosmos ou a plantação, pesca etc.
Por exemplo, as hierofanias vegetais (isto é, o sagrado revelado
através da vegetação) encontra-se tanto nos símbolos (a arvore cósmica) ou nos
mitos metafísicos (a arvore da vida) como nos ritos ”populares” (o “cortejo da
arvore de maio”, a queima das achas, fogueiras de São João, os ritos agrários),
nas crenças ligadas à ideia de uma origem vegetal da humanidade, nas relações místicas
existentes entre certas arvores e certos indivíduos ou sociedades humanas, nas
superstições relativas a fecundação pelos frutos ou pelas flores, pós de Maio,
nos contos em que o herói, covardemente assassinado, se transforma numa planta,
nos mitos e nos ritos das divindades da vegetação e da agricultura, etc. (ELIADE, 2008;
Pg. 31)
Esse
pensamento em algo divino leva a espécie humana de uma conduta instintiva a uma
conduta moral. A permanência nos grupos passou a exigir uma conduta moral
baseada nos costumes, mitos e crenças das sociedades as quais pertenciam o indivíduo.
Segundo Norbeck, “as cerimônias, os rituais e as religiões são baseados no
sistema social, os quais estão integrados os agentes sociais”.
Em um estudo clássico, o sociólogo francês Robert Hertz
interpretou os rituais de mortuário relatados de Bornéu como um rito de
passagem simbólico. Em um primeiro funeral, a pessoa morta foi enterrada e
parentes sobreviventes iam para um isolamento ritual, longe de qualquer contato
social. A seguir o crânio purificado era exumado e outro enterro era realizado
que enviava o espirito para a vida depois da morte e libertava os enlutados para
que voltasse a vida social normal. Hertz interpreta isso como um tratamento de
morte, como um rito de passagem para um novo status. O mundo depois da morte é inventado para evitar tratar a
morte como um final: o segundo enterro reincorpora os vivos em seu mundo e
envia o espirito para o novo mundo. (KEESING, 2014; Pg. 356) apud (cf. BLOCH, 1972; HUNTINGTON & METCALF,
1979; METCALF, 1977).
A crença em um mundo espiritual atenua o medo da
morte, acreditava-se existir uma possibilidade de após a morte o indivíduo se
comunicar com as pessoas que ficaram e os espíritos poderiam influenciar na caça,
na guerra etc.
A partir desse ponto de vista a religião é entendida como um
fenômeno social. Essa visão é reforçada na busca de Durkheim pela religião mais
primitiva, o totemismo, na qual encontra o mana totêmico simbolizando o sagrado
e o clã ao mesmo tempo. Recordemos que, para Durkheim, o totem simbolizava uma força
religiosa coletiva e impessoal denominada mana, que já havia sido descrita por
Condrington em suas pesquisas sobre os Melanésios. (RIES, 1985, p. 17-18) apud (ROHDEN, 1998. Pg. 29).
Todavia, a fé nos sacerdote se torna uma coisa indispensável,
pois o mesmo é um intermediário entre os dois mundos (espiritual e o físico), e
isto de certa forma diminui a preocupação com a morte. O
feiticeiro/sacerdote, o Xamã, o padre, o pastor, o “pai de santo” é um
intermediário entre os dois mundos, é o indivíduo que está adequadamente
preparado para manusear, os objetos ou palavras, com as quais o mana está
relacionado, sem profanar o sagrado. É o intermediário entre as pessoas comuns
e o mundo sobrenatural.
Segundo Durkheim, o totem não é mais que uma representação material
dessa força impessoal e difusa. Essa força, o mana, é considerada, por Durkheim,
o sagrado por excelência. Para ele essa força nada mais era do que uma força
coletiva com sua origem na sociedade, que é transferida para a realidade como
um elemento essencial na organização social. A esse respeito J. Ries explica
que a sociedade desperta a sensação do divino, justamente por ser considerada
como um deus, para os seus membros. Através de uma operação de transferência de
força, que ocorre durante as festas, o sagrado é criado. Portanto, o sagrado é
uma criação da sociedade, transferido em seguida para o totem. (RIES, 1985, p. 17-18)
apud (ROHDEN, 1998. Pg. 29).
Possivelmente as pessoas, dependendo de sua religião,
tendem a ver certas situações com um olhar maniqueísta, sempre relacionando os casos
do cotidiano a algumas manifestações do sagrado. Para o Xamã, o feiticeiro, o
pajé e para algumas religiões de matriz africana um mesmo espirito ou divindade
pode fazer tanto o bem quanto o mal, diferente das religiões cristãs que acreditam
em duas divindades, uma que faz o mal e outra q faz o bem.
“Demônios, herança da Idade Média”. De
acordo com a Bíblia Sagrada, Deus permitiu aos homens um livre-arbítrio,
direito de escolha entre o bem e o mal. De certa forma, isto responde a quem
perguntar sobre o motivo de tanta maldade na terra, pois, se existe maldade, é
por total responsabilidade da queda dos anjos decaídos. Todavia, existem
demônios que estão todos os dias a atormentar a humanidade e, a Eles são
atribuídas toda a origem do mal; a idéia de demônios foi alterada pela de
“Diabo” por santo Agostinho na idade média, dando a idéia de seres totalmente
malignos, antes os demoníacos eram reconhecidos como uma coisa superior ao homem,
sinônimo de sabedoria:
No livro VIII de A cidade de Deus (iniciado em 413),
Agostinho assimila essa antiga tradição, substitui os deuses por Deus, e
converte os demônios em Diabo – afirmando que eles são, sem exceção, malignos. Não
tem virtude redentoras. São a fonte de todo o mal espiritual. (SAGAN, 2006. Pg.
140).
De acordo com Platão, os demônios são detentores de uma inteligência sobre-humana
e possuem um papel elevado entre os homens e nem todos eram maus.
A crença nos demônios era difundida no mundo antigo. Eram considerados
seres naturais, e não sobrenaturais. Hesíodo os menciona de passagem. Sócrates
descrevia sua inspiração filosófica como a obra de um demônio pessoal e benigno.
Sua professora, Diotima da Mantineia, diz-lhe (no banquete de Platão)
que “tudo o que é demoníaco (gênio) é intermediário entre Deus e os mortais.
Deus não tem contato com os homens — continua — só por meio do demoníaco é que
existe relações e diálogos entre os homens e os deuses, quer em estado desperto,
quer durante o sono. Platão, o discípulo mais famoso de Sócrates, atribuía um papel
elevado aos demônios: “Nenhuma natureza humana investida com o poder supremo é
capaz de ordenar os assuntos humanos — disse — e não transbordar de insolência
e iniquidade...” (SAGAN, 2006; Pg. 138).
Percebemos nesses trechos o fascínio dos homens pelas coisas do
imaginário comum, as coisas espirituais, as quais estão fortemente ligadas à
humanidade desde o começo dos tempos através da religião, atribuiu signos e
significados as coisas que ela não conseguia explicar. “E o que os demônios
também eram capazes de fazer?”.
No Malleus, Kramer e Sprenger revelam que “os diabos
[...] procuram interferir no processo da copula e concepção normal, obtendo semém
humano e transferindo-o eles próprios”. A inseminação artificial demoníaca na Idade
Média remonta pelo menos a São Tomás de Aquino, que nos diz em Sobre a Trindade
que “os demônios podem transferir o semém que coletaram e injeta-los nos
corpos de outros”. (SAGAN, 2006, Pg. 149)
Existia uma crença de que os demônios desciam do céu e se relacionavam
sexualmente com os humanos e que do fruto desse relacionamento nasciam às
bruxas, e esse fato foi o motivo de muitas mortes causadas pela inquisição na
idade média. As terras e os bens da suposta bruxa eram confiscado pelo estado/igreja;
ela, “a bruxa” não tinha o direito de justificar sua inocência e consequentemente
era queimada na fogueira. Quem ousar-se interferir seria queimado junto com ela.
O interessante nessa história é que mal se ver ou pouco se fala em possíveis
bruxos ou caça aos bruxos. Refletindo uma dominação machista a qual sempre dava
proteção aos homens.
Em 1645, uma adolescente da Cornualha, Anne Jefferies, foi
encontrada grogue, encolhida no chão. Muito mais tarde, ela lembrou ter sido
atacada por meia dúzia de homenzinhos, conduzida paralisada a um castelo nos
ar, seduzida, e trazida de volta para casa. Ela chamava os homenzinhos de duendes.
(Para muitos cristãos piedosos, como para os inquisidores de Joana d’Arc, essa distinção
era irrelevante. Os duendes eram demônios, pura e simplesmente.) Eles voltaram para
aterrorizá-la e atormenta-la. No ano seguinte ela foi presa por bruxaria. (SAGAN, 2006;
Pg. 150)
A crença em duendes, anjos, espíritos, bruxas,
demônios fazem parte do imaginário comum, no entanto, ao longo dos tempos,
podemos ver que a ciência vai evoluindo e cada vez mais refutando algumas
teorias.
A ciência não usa mais a definição da bíblica para
explicar os fenômenos. Deus, Demônios, “a criação” e divindades teriam sido
refutadas pela ciência; segundo a ciência, a existência de tais fatos está no imaginário
comum das pessoas, como dito antes, o que diminui o medo da morte e dá
esperança aos homens de suportar as dificuldades.
Incerta e imaginária, ela reveste-se de um cunho religioso sob a
forma de crenças que procuram atenuar o temor do fim da vida. Diminuindo a
ansiedade e as suas dúvidas, a reflexão e o pensamento da Morte poderão ser o
caminho que integre o homem no Universo de que ele faz parte e o conduza à
descoberta de uma verdade procurada. (GUERREIRO, 2008; Pg. 171).
No entanto, a ciência não é uma verdade inquestionável,
pois, um dos pontos que podem ser observados é que a ciência é feita de acerto
e erro. Entretanto, certos mitos vão se adaptando, e as idéias de coisas
espirituais vão dando a lugar aos UFOS, ou alienígenas; seres extraterrestres. Podemos
imaginar que as pessoas da antiguidade não tinham referência tecnológica do que
seria um disco voador nem espaçonave ou coisas do tipo, e talvez não pudessem
descrever como hoje como nós imaginamos ser os alienígenas.
Segundo (ELIADE,
2008), [...] É sempre numa certa situação histórica que o sagrado se
manifesta, até as experiências místicas mais pessoais transcendentes sofrem a influência
do momento histórico.
A manifestação do sagrado, desde a mais elementar até a mais
complexa, como a encarnação de Deus em Jesus Cristo, ocorre sempre num contexto
histórico, social e cultural determinado. Segundo Eliade, a mais universal experiência
mística, ao se manifestar, se singulariza. Quando Deus se encarnou em Cristo,
teve que falar o aramaico, agir como um hebreu: a sua mensagem, por mais
universal que fosse, estava condicionada pela história do povo hebreu. (ROHDEN, 1998;
Pg. 22).
Nesse contexto, acredita-se que a ideia mística de
espíritos e demônios possa vir a dar lugar ou ser condicionada a uma ideia que
se apoie na ciência, os ALIENS serão parte do imaginário comum da atualidade, e
todo aparecimento antigo de deuses espíritos e Demônios serão justificados por
um antepassado extraterrestre o qual ajudou a humanidade desde o começo dos
tempos.
Seguindo essa linha de argumentação, poderíamos prever que os
adeptos atuais das crenças antigas passassem a compreender os “alienígenas” como
duendes, deuses ou demônios. Na verdade, várias seitas contemporâneas – os “raelianos”,
por exemplo - sustentam que os deuses ou Deus vieram à Terra em UFOS. Algumas vítimas
de rapto descrevem os alienígenas, por mais repulsivos que sejam, como “anjos”
ou “emissários de Deus”. E há os que ainda acham que se trata de demônios. (SAGAN, 2006;
Pg. 154).
Os fatos tendem a explanar ou conduzir para esse
caminho: o qual, as crenças são produtos da vida social a que a reflete; como
podemos ver no presente contexto, os deuses estão geralmente relacionados ao
modo de vida das sociedades; o homem em geral, não tem como imaginar como ou
qual seria a vontade de Deus, se não, segundo o que ele entende por verdade,
pela sua cultura, pela sua política e as suas crenças. Contudo, a ciência
dizendo que “Deus está morto”, não corre o risco dela mesma se tornar a
nova religião do mundo? Não se sabe, apesar disso, ainda hoje, embora todo o
avanço científico, o fenômeno religioso sobrevive e cresce, desafiando
previsões que anteviam seu fim. A religião é uma coisa que está fortemente
ligada à cultura das sociedades, nas quais estão inseridas, e
“coincidentemente” sempre relacionadas a alguns mitos e símbolos.
As tradições religiosas são com frequência tão ricas
e variadas que oferecem uma ampla oportunidade de renovação e revisão,
sobretudo, mais uma vez, quando os livros sagrados podem ser interpretados metafórica
e alegoricamente tendendo a uma hermenêutica de acordo com a interpretação de
cada religião, não se pode ter uma resposta consistente das coisas, da vida e
da criação do mundo. Daí, pode-se justificar inquisições, escravidão,
ascetismos dos fiéis e enriquecimento dos pastores neopentecostais etc.
E, na história da humanidade, não há registro em qualquer estudo
por parte da História, Antropologia, Sociologia ou qualquer outra ciência
social, de um agrupamento humano em qualquer época que não tenha professado algum
tipo de crença religiosa. As religiões são, então, um fenômeno inerente à
cultura humana, assim como as artes e técnicas. As religiões são então um fenômeno
inerente a cultura humana, assim como as artes e técnicas. [..] Grande parte de todos os movimentos
humanos significativos tiveram a religião como impulsor, diversas guerras,
geralmente as mais terríveis, tiveram legitimação religiosa, estruturas sociais
foram definidas com base em religiões e grande parte do conhecimento
científico, filosófico e artístico tiveram como vetores os grupos religiosos,
que durante a maior parte da história da humanidade estiveram vinculados ao poder
político e social. (MOREIRA, 2008; Pg. 249).
O homem em geral, não tem como imaginar como ou qual
seria a vontade de um deus, se não, segundo o que ele entende por verdade, pela
sua cultura, pela sua política e as suas crenças. Deuses foram criados para
explicar fenômenos naturais e coisas que o homem não conseguia explicar. No
Egito existiam deuses antropozoomorficos, metade animal, metade humana, e a
cada um era determinado certo poder. Rá era o deus sol, a estrela da manhã que
trazia calor e mantinha a vida no planeta. O antropomorfismo dos gregos foi adotado também
pelo cristianismo, os deuses teriam semelhança com a imagem humana, e estariam
sujeitos aos mesmos desejos e paixões. Geralmente os deuses têm semelhança
humana, os quais no cristianismo, candomblé, hinduísmo, budismo, islamismo etc.
todos são sujeitos aos mesmos desejos e paixões que os homens. Os deuses podem
sentir: íra, ciúmes, inveja, amor, compaixão etc. todos os sentimentos
relacionados ao ser humano. Outro detalhe é que o Deus europeu é branco, e não
negro nem indígena, ou seja, cada sociedade vai criar um Deus a sua imagem e
semelhança. Como disse Xenofanes: se um cavalo pudesse pintar como seria o seu
Deus, o pintaria em forma de cavalo e Nietzsche: o Deus é a imagem e semelhança
do homem, contradizendo a bíblia, a qual diz que Deus criou o homem a sua imagem
e semelhança.
Xenofanes escreveu em versos sua oposição às ideias de Tales,
Anaximandro e Anaxímenes. Chegaram até nós diversos de seus versos e de suas
idéias filosóficas. Delas podemos destacar seu combate ao antropomorfismo (atribuir
aos deuses formas e sentimentos humanos) que ele expressa especialmente contra
os poemas de Homero e Hesíodo. Ele dizia que se os animais tivessem o dom da
pintura eles iriam pintar seus deuses com formas animais. "Homero e
Hesíodo atribuíram aos deuses tudo aquilo que para os homens é objeto de
vergonha e baixeza: roubar, praticar adultério e enganar-se... os mortais
consideram que os deuses nasceram, e que possuem roupas, vozes e corpos como os
seus... os Etíopes acreditam que seus deuses possuem narizes achatados e
que são negros; e os Trácios que os seus deuses possuem olhos azuis e cabelo
vermelho... mas se os bois, cavalos e leões tivessem mãos e soubessem
desenhar... os cavalos desenhariam figuras de deuses semelhantes a cavalos, os
bois semelhantes a bois." Ele queria com isso mostrar que o verdadeiro
deus é único, absoluto e tem pouca semelhança com os homens, com seus pensamentos
ou com as diversas representações feitas dele. (XENÓFANES, 570 - 475 a.C.).
Não cabe ao antropólogo a valoração de costumes e
crenças das religiões, o certo é que a religião faz parte da cultura dos povos
e como parte integrante da cultura sofre as variações dos diversos locais, como
também influência nos seus costumes.
Conclusão
O dom do ensino não é uma coisa determinada
nem predestinada por uma divindade, quem quiser ser professor deve levar em
consideração que a sua tarefa exige preparo e dedicação, como qualquer outra
profissão. Existem métodos e didáticas que podem ser aprendidos pelos
professores que servem para qualificar e preparar ainda mais o docente para o
ensino em sala de aula. O professor de antropologia também tem que ser um bom
pesquisador e a sua busca por conhecimento deve ser uma coisa continua, todavia,
o ensino é uma coisa paulatina, e a vantagem é a de que: quem ensina também
aprende, sem falar que a questão do ensino da religião tem se tornado cada vez
mais uma coisa fundamental para se diminuir a intolerância e o fundamentalismo religioso.
Como dito antes, o professor também aprende ensinando, o saber docente só, não
é suficiente para o desenvolvimento da sua profissão, a questão da gestão e do ensino
envolve a necessidade de se obter um conhecimento interdisciplinar e uma experiência
de sala de aula, que é adquirida com o tempo.
O professor, devido a sua experiência de vivencia de sala de aula
e métodos já utilizados antes, deve ter utilizados métodos que deram certo e
outros errados e a sua experiência adquirida durante o tempo de vivencia
proporcionará uma melhor decisão ou escolha de métodos de acordo com o andamento
da aula no presente e futuro. Explorando a sua capacidade didática, o professor
de antropologia tem o papel de se tornar o principal meio pelo qual a religião pode
ser apresentada sem o predominante viés religioso de forma que os consequentes
efeitos de separação, preconceitos, embates religiosos e o principal, a intolerância
possam tender a ter um fim. Podemos entender sobre os conceitos básicos da interferência
da religião no mecanismo da ação humana durante o princípio primitivo da humanidade
até um contexto atual e cientifico.
É importante que o aluno entenda determinados conceitos para
perceber que a religião necessita de um esforço de relativização e alteridade
para que se possa haver um melhor entendimento do contexto religioso das ações e
manifestações do sagrado em torno do mundo e ao seu redor.
REFERENCIAS
ANASTASIOU, L. d., &
ALVES, L. P. (2015). Processo de ensinagem na universidade:
pressupostos para as estrategias de trabalho em aula. Joinville, SC:
Editora Univille.
DARWIN, C. (2008). A
origem das Espécies. (A. C. MESQUITA, Trad.) São Paulo: Editora Escala.
ELIADE, M. (2008). Tratado
de História das Religiões. (N. N. FERNANDOTOMAZ, Trad.) São
Pailo: Martins Fontes.
KEESING, R. M. (2014). Antropologia
Cultural: uma perspectiva contemporânea. Petropolis: VOZES.
ROHDEN, C. S. (1998). A
Camuflagem do Sagrado e o mundo moderno à luz do pensamento de Mircea Eliade.
Porto ALegre: EDIPUCRS.
SAGAN, C. (2006). O
mundo assombrado pelos demonios: A ciencia vista como uma vela no
escuro. São Paulo: Companhia das Letras.
XENÓFANES (570 - 475 a.C.). em Só
Filosofia. Virtuous Tecnologia da Informação, 2008-2020. Consultado em
03/01/2020 às 16:32. Disponível na Internet em http://www.filosofia.com.br/historia_show.php?id=14.
- Para um maior aprofundamento acerca do modelo jesuítico
de ensino e sua influência atual, da Ratio Studiorum e dos passos previstos na
ação docente e discente vide ANASTASIOU, L. G. C. in Metodologia do Ensino
Superior: da prática docente a uma possível teoria pedagógica, Editora IBPEX,
Curitiba, 1998.